Ectomia da verdade (ABsurdo n. 1)

Ergue-te dentre a folia,
o carnaval está prestes a findar...
caiu a tua mão a taça, partida
sobre teus pés que sangram e nem gemes ainda.

Do outro lado do camarim
alguém toca de leve uma gaita...
a madrugada em manto acoberta
os sonhos que se aposentam amarelecidos.

Bailam no ar amortalhados
os gritos da folia em delírio...
enquanto na barca fogem os marujos
para suas terras ao encontro do amor.
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Que esperas! Despe-te da máscara da paciência!
A branca luz d'aurora te sorri e chama
sob os espinhos das rosas onde suspiram os mortos
enquanto o infinito jorra sua luz às janelas abertas.

No caminho a erva daninha cresce!
Sacode então a terra e limpa o pedregulho,
que nele os girassóis abrirão suas hastes
para depositar fragrâncias nas mãos da paisagem.

Ergue-te como a rainha,
sem temor ao alarido dos fantasmas!
Passam por ti as mil caravanas dos desertores
e dormes... dormes na inocência do teu leito.

E quem te procurar onde haverá de encontrar-te?
Vai... pois! Finca esses pés na estrada
os que puderem passar de ti perto
reconhecer-te-ão como um eclipse.

Continua a chover no teu jardim maltratado,
pela vidraça embaciada nada transparece...
quantos te procuram, sofrendo infâmias e perseguições
e mesmo assim dormes... dormes!

Ergue-te! Nessa mesma hora...
ordena a ectomia desse câncer que te consome!
Ergue-te depois sobre todas as terras, serpentes, águas!
Ergue-te sobre as injustiças, mentiras, falsos profetas e falsos deuses!

Ergue-te ostentada como a luz
sobre todas as trevas, abismos, tempestades e certezas conscientes!
Ergue-te Verdade! Sobre toda ectomia da própria Verdade!

Da obra Mundo ABsurdo - ROSEMARY MUNIZ MOREIRA

                                                                 (Fonte da imagem: Tumblr)